Vale a pena se relacionar hoje?
Entre o egocentrismo moderno e a ausência de tradições, será que ainda vale construir um amor a dois?
Novos tempos. Dizemos isso hoje e continuaremos falando amanhã. Cada dia traz desafios inéditos.
Regras que antes serviam de base já não funcionam — ou deixaram de existir. Situações novas e desafiadoras surgem de repente, sem aviso prévio.
É cada vez mais visível a dificuldade de construir um relacionamento amoroso sólido. Quando falamos de um relacionamento sério, referimo-nos a duas pessoas que desejam, de forma genuína, compartilhar uma vida em comum, com todos os deveres, responsabilidades, prazeres e preocupações que isso implica.
Por que isso acontece?
O amor ainda é tão relevante?
Acredito que vários fatores contribuem — alguns evidentes, muitos inconscientes.
1) Egocentrismo ampliado
Culturalmente, há um movimento pela busca do prazer pelo prazer em si, especialmente o próprio. Muitas vezes, esse prazer anda de mãos dadas com uma alegria utópica — quer-se apenas o que agrada, sem enfrentar nenhum conflito, o que agrava o problema. Quanto mais foco no próprio umbigo como “centro do universo”, maior a dificuldade para se doar ao outro, especialmente diante das imperfeições, pois é mais fácil amar o que só agrada e não apresenta falhas — se é que isso existe.
2) O fim da tradição
Décadas atrás, os relacionamentos estruturavam famílias — era tradição. Embora imperfeita, essa tradição tinha seus pontos fortes, humanos e significativos, que se perderam. Muitos casais mantinham-se juntos apenas pelos filhos ou pelos benefícios sociais, financeiros e materiais da vida a dois. Para olhos contemporâneos, havia pouco de realmente amoroso — no sentido romântico e conjugal. Ainda assim, havia uma devoção à união e maior resiliência para lidar com as diferenças, conflitos e discussões.
Embora muitos abusos tenham ocorrido, e hoje continuem de outras formas, havia um “mapa” emocional para trilhar a relação. Sem ele, tudo parece possível — e quase nada dá certo.
Como filtrar tantas possibilidades e criar um padrão satisfatório hoje?
Uma pergunta complexa, mas que instiga reflexões relevantes.
E o relacionamento amoroso realmente importa?
Acredito que sim. Toda relação entre duas pessoas envolve algo profundo e sagrado. Mas olhar para o outro com amor — em meio a tantos conflitos, histórias mal resolvidas, estímulos externos (notícias, ideias, valores) que pesam e pouco auxiliam — tornou-se mais difícil.
Quando o prazer próprio assume o centro do universo, em detrimento do amor ao próximo — não um sentimento utópico, mas um compromisso ético —, a relação amorosa se torna mais complexa.
E quanto à família?
Filhos não são o único propósito de vida, mas ainda representam uma possibilidade real de realização.
Um ponto fundamental
Seja em relações amorosas, paternidade/maternidade, família ou ambientes de trabalho que exigem proximidade além do operacional, a falta de empatia, compaixão e amor ao próximo tem dificultado muito as relações.
É preciso olhar para a realidade: enxergar os outros concretamente, perceber suas dores, entender seus contextos — e doar algo real. Isso pode gerar vínculos verdadeiros. É uma tarefa difícil, mas possível.
Não se trata de nos considerarmos perfeitos, culpando apenas o outro. Trata-se de uma autoconsciência: querendo ou não estar em um relacionamento, valorizando ou não a família, buscando orientação em caminhos A, B, C ou D, podemos ser melhores. Não por ego, mas por lógica — para que nossas vidas, e as das pessoas ao nosso redor, tenham mais sentido. Para que o prazer deixe de ser um pedestal e o valor humano, com suas imperfeições, seja plenamente vivenciado.
As pessoas são mais que suas virtudes: elas são complexas. O desafio — no campo amoroso, familiar, profissional ou social — é lidar com a totalidade do outro, sem passividade, encontrando ajustes e mantendo um olhar amoroso, autoconsciente e autocrítico, para fazer o melhor dentro das nossas possibilidades.
E, claro, nada justifica permanecer consciente em qualquer tipo de abuso insolúvel, onde gestos de amor não têm espaço para florescer. Mas vale lembrar.
Abraço,
Julio Furlaneto
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